segunda-feira, 25 de março de 2013

Mecanismos de ação de venenos

Na aula do dia 17 de março foi nos mostrado o vídeo abaixo para que discutíssemos acerca do que aconteceu. 



Vemos no vídeo que apesar da apesar do tamanho menor e contra todas as previsões a aranha foi quem devorou a cobra. Outro vídeo de uma briga entre esses dois animais pode ser assistido em HD no site  do canal Animal Planet

A jararaca (Bothrops jararaca) possui ampla distribuição no sudeste da América do Sul e associado ao domínio da Mata Atlântica; é encontrada também em áreas antrópicas. Possui hábitos noturnos e se alimenta principalmente de pequenos roedores. ¹ 

Seu veneno é uma mistura de enzimas, peptídeos e proteínas de pequena massa molecular. Uma dessas proteínas, a jararagina (família das meloproteinases), teve seu funcionamento elucidado recentemente, ela possui ação hemorrágica e se acumula proximamente aos vasos sanguíneos ². Estranhamente (ou não) seu veneno também causa distúrbios na coagulação, ativando o fator X e a trombina; ou com ação semelhante à da trombina, convertendo fibrogênio em fibrina. Dessa forma se consumem os fatores da coagulação. ³ 

Outros componentes do veneno são: hialozimas (enzimas facilitadoras da difusão de líquidos injetáveis); citolisinas (causam inflamação local, necrose e dano ao epitélio vascular); e principalmente fosfolipase A, que desarranja os componentes fosfolipídios da membrana celular, impedindo o fluxo de íons de cálcio. Essa serpente é responsável por 90% dos acidentes ofídicos do país. 4

A tarântula gigante (Theraphosa blondi) também conhecida como tarântula gigante comedora-de pássaros é a maior aranha do mundo. É encontrada na América do Sul, principalmente na floresta Amazônica e, apesar do nome, raramente se alimenta de pássaros, sua dieta é principalmente composta de invertebrados. Mesmo como todo o “alarmismo” notado durante o vídeo, a tarântula gigante é muitas vezes utilizada como animal de estimação, pois sua picada apesar de imobilizar pequenos animais, em humanos é comparada apenas com uma ferroada de vespa. 5


vídeo da NatGeo a respeito da tarântula gigante 


Quase todas as espécies de aranha apresentam glândulas de veneno que produzem neurotoxinas proteicas, mas poucas dessas espécies (por volta de doze) são consideradas perigosas para humanos 6A atividade neurotóxica é devido à interação dos componentes do veneno com receptores celulares, canais iônicos em particular. Pesquisas têm mostrado que venenos de aranha são fontes de peptídeos ligantes altamente específicos para canais de sódio, potássio e cálcio; canais responsáveis pela excitação da membrana celular e transmissão de sinais elétricos; bloqueando-se os impulsos nervosos para os músculos, a vítima fica imobilizada 7. As aranhas têm um par dessas glândulas, e em volta delas há músculos para que possam pressionar o veneno através do duto até sair em suas presas ocas. 6

A aranha então regurgita enzimas digestivas sobre a presa; dessa forma, a digestão inicia-se externamente. A aranha posteriormente irá sugar os nutrientes em forma líquida.

Se a cobra se antecipasse ao ataque da aranha, esta provavelmente não seria predada pela cobra. O veneno das cobras é altamente especializado para certos tipos de presa 8; e a aranha não está nessa lista. O sangue da aranha é totalmente diferente do sangue dos vertebrados. O sangue dos invertebrados, a hemolinfa, tem a hemocianina como proteína responsável pelas trocas gasosas, enquanto os vertebrados utilizam a hemoglobina para essa função. Além disso, a locomoção das aranhas não é controlada apenas pela contração dos músculos 9, é utilizada principalmente a pressão hidrostática para isso. 10

Talvez a grande tarântula não tivesse tanta sorte se encontrasse um dos predadores mais especializados em sua caça, a vespa caçadora (tarantula hawk). Essa vespa caça aranhas para serem hospedeiras de seus ovos. As larvas que eclodirem irão devorar a tarântula ainda viva 11. Mas isso já assunto para outro dia.

vespa caçadora (tarantula hawk)

Referências

1. HARTMANN, Paulo Afonso; HARTMANN, Marília Teresinha; GIASSON, Luis Olímpio Menta. Uso do hábitat e alimentação em juvenis de Bothrops jararaca (Serpentes, Viperidae) na Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Phyllomedusa: Journal of Herpetology, Piracicaba, p. 35-41. 31 nov. 2003. Disponível em: <http://www.phyllomedusa.esalq.usp.br/articles/volume2/number1/213541.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

2. ALCÂNTARA, Alex Sander. Veneno da jararaca tem mecanismo desvendado. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/12532>. Acesso em: 25 mar. 2013.

3. FUNASA. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2 ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. Disponível em <ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/zoo/manu_peco01.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

4. TEIXEIRA, Sabrina Schaaf. Caracterização funcional e estrutural de uma fosfolipase A2 ácida isolada do veneno de Bothrops pirajai. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 112p. 2009.

5. BECCALONI, Janet. Theraphosa blondi (Goliath bird-eating spider). Disponível em: http://www.nhm.ac.uk/nature-online/species-of-the-day/biodiversity/loss-of-habitat/theraphosa-blondi/>. Acesso em: 25 mar. 2013.

6. LEEMING, Jonathan. Medically Important Spiders. Disponível em: <http://www.wildlifecampus.com/Courses/MedicallyImportantSpiders/MedicallyImportantSpiders/IntroductiontoMedicallyImportantSpiders/1721.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

7. AUSTRALIAN MUSEUM. Spider bites and venoms. Disponível em: <http://australianmuseum.net.au/Spider-bites-and-venoms/>. Acesso em: 25 mar. 2013.

8. MACKESSY, SP Biochemistry and pharmacology of colubrid snake venoms.  Journal of Toxicology-Toxin Reviews 21 (1 & 2) , p 43-83. 2002. Disponível em: http://www.unco.edu/nhs/biology/faculty_staff/mackessy/colubrid.pdf>. Acesso em 25. Mar. 2013

9. WEIHMANN, Tom; GÜNTHER, Michael and BLICKHAN, Reinhard. "Hydraulic Leg Extension Is Not Necessarily the Main Drive in Large Spiders". The Journal of Experimental Biology 215 (4): 578–583. 31 out. 2011. Disponível em: <http://jeb.biologists.org/content/215/4/578.full.pdf>. Acesso em 25 mar. 2013

10.  PARRY, D. A., and BROWN, R. H. J. (1959). "The Hydraulic Mechanism of the Spider Leg". Journal of Experimental Biology 36 (2): 423–433. 15 fev. 1959. Disponível em: <http://jeb.biologists.org/content/36/2/423.full.pdf>. Acesso em 25 mar. 2003

11. WILLIAMS, David B. Tarantula Hawks. Disponível em: <http://www.desertusa.com/mag01/sep/papr/thawk.html>. Acesso em: 25 mar. 2003.

domingo, 24 de março de 2013

Sobre este blog

Este blog foi solicitado pelo professor Carlos Augusto Lucas Brandão como avaliação da disciplina "Fisiologia Animal Comparativa e Humana I" do curso de Ciências Biológicas, para obtenção da terceira nota para o o semestre 2013.1